terça-feira, 27 de outubro de 2015

Redmi 2: a estreia com o pé direito da Xiaomi

Depois de se aventurar no continente asiático, a Xiaomi estreou no Brasil aos trancos e barrancos. Mas, em tempos de crise econômica, dólar alto e eletrônicos mais caros, posso dizer que o primeiro smartphone da fabricante chinesa no país não poderia ser melhor escolhido. O Redmi 2, aparelho de entrada que oferece hardware atraente e preço acessível, é a aposta da Xiaomi para começar sua jornada no mercado brasileiro.

Como o smartphone de estreia da Xiaomi no Brasil se comporta? O software bastante modificado faz diferença? Dá para oferecer câmera, performance e bateria satisfatórias por R$ 499? Eu te conto nos próximos parágrafos.

Design e tela

Não há nada muito chamativo no acabamento do Redmi 2, que não foge do que encontramos nos smartphones de baixo custo da Samsung, Microsoft ou Motorola. A unidade que tive acesso possui traseira cinza com acabamento fosco, botões laterais com aspecto cromado e uma borda plástica envolvendo a tela de 4,7 polegadas. É um design simplório e funcional.
Os únicos elementos que destoam do conjunto são os botões frontais capacitivos, na cor vermelha (!), para acessar o gerenciador de tarefas, voltar à tela anterior ou chamar a tela inicial — o nome Redmi não é por acaso, e esse detalhe de design também está presente no Redmi Note 4G, que não chegou ao Brasil. Infelizmente, os botões não são iluminados, o que dificulta um pouco na hora de usar o Redmi 2 no escuro.

 A parte frontal do Redmi 2 esconde um pequeno LED de notificações, que fica logo abaixo do botão de início. Nas inúmeras configurações de software da MIUI, que detalharei na seção específica, você pode personalizar as cores do LED para cada tipo de alerta (chamadas, mensagens e notificações) ou até mesmo desativar a luzinha, caso prefira.

 Ao remover a tampa traseira, encontramos a bateria de 2.200 mAh, o importantíssimo slot para cartão de memória e as duas entradas para os SIM cards. É curioso notar que, mesmo produzindo um smartphone de entrada, a Xiaomi não deixou de lado o microfone secundário para cancelamento de ruído, localizado acima da lente da câmera traseira. Ponto para os chineses.

Quando o assunto é tela, o Redmi 2 ainda não tem concorrentes à altura. O visor de 4,7 polegadas, com painel IPS LCD e resolução de 1280×720 pixels, é fantástico quando consideramos seu preço. O brilho é forte, as cores têm boa saturação e o ângulo de visão é amplo. Os pretos poderiam ser mais pretos, mas, até o momento, não conheço nenhuma fabricante que tenha conseguido colocar um display com contraste melhor na mesma faixa de preço.

Em vez de apostar no tradicional Gorilla Glass, a Xiaomi optou por proteger a tela do Redmi 2 com o Dragontrail, da japonesa Asahi Glass. Embora seja menos conhecido que o vidro da Corning, o Dragontrail tem um nível semelhante de resistência contra arranhões. Até onde me consta, a Sony era até então a única fabricante que usava o Dragontrail no mercado brasileiro, na família Xperia Z.
Por ser relativamente estreito, com 67,2 mm de largura, o Redmi 2 encaixou bem nas minhas mãos, e foi possível alcançar os cantos da tela sem fazer muito esforço. Isso não impediu a Xiaomi de incluir um inesperado recurso para uso “com uma mão”, como a Samsung faz no Galaxy Note. No caso do Redmi 2, você pode emular um aparelho com visor de 4,0 ou 3,5 (!) polegadas. Serve até para criança.

Em vez de apostar no tradicional Gorilla Glass, a Xiaomi optou por proteger a tela do Redmi 2 com o Dragontrail, da japonesa Asahi Glass. Embora seja menos conhecido que o vidro da Corning, o Dragontrail tem um nível semelhante de resistência contra arranhões. Até onde me consta, a Sony era até então a única fabricante que usava o Dragontrail no mercado brasileiro, na família Xperia Z.
Por ser relativamente estreito, com 67,2 mm de largura, o Redmi 2 encaixou bem nas minhas mãos, e foi possível alcançar os cantos da tela sem fazer muito esforço. Isso não impediu a Xiaomi de incluir um inesperado recurso para uso “com uma mão”, como a Samsung faz no Galaxy Note. No caso do Redmi 2, você pode emular um aparelho com visor de 4,0 ou 3,5 (!) polegadas. Serve até para criança.

 Software e multimídia

 

 

O software é, sem dúvida, a parte mais importante de um smartphone da Xiaomi. O Redmi 2 roda o antigo Android 4.4.4 KitKat, sem previsão de atualização para o Lollipop no mercado brasileiro. Mas a Xiaomi faz pouca questão de citar o robô verde durante suas apresentações e materiais de divulgação — o que o Redmi 2 tem é o “sistema MIUI 6”, afinal.
Faz todo sentido que a Xiaomi informe a versão do MIUI em vez do Android, porque o que temos no Redmi 2 é um sistema operacional “novo” que, por acaso, também roda aplicativos feitos para Android. Não há praticamente nada do Android desenvolvido pelo Google: todas as telas, incluindo a central de notificações, os menus de configurações e as telas iniciais do launcher, são desenhadas pela Xiaomi.

 "O Redmi 2 é um Android para quem gosta de iPhone."

A MIUI lembra o iOS em muitos pontos. A semelhança mais notável é a falta do menu dedicado de aplicativos do Android. Todos os ícones ficam obrigatoriamente espalhados nas telas iniciais. Eles seguem o padrão da Apple, com quadrados coloridos arredondados com um pictograma, e trazem o círculo vermelho no canto superior direito com a contagem de notificações não lidas. A inspiração é óbvia nos aplicativos pré-instalados, especialmente no software de câmera. Em outras palavras, o Redmi 2 é um Android para quem gosta de iPhone.


Mas a Xiaomi não se contenta em copiar o iOS: a MIUI e os aplicativos da fabricante chinesa possuem interfaces muito bem trabalhadas e agradáveis de se ver. A preocupação com os detalhes pode ser notada nas várias animações do sistema, que aparecem em momentos inesperados, e nas inúmeras configurações de software e possibilidades de personalização. Ao contrário do que ocorre em certas fabricantes, esse excesso de funções não faz o sistema parecer cheio de bloatwares. Está tudo bem organizado, no seu devido lugar.
O software é extremamente personalizável. Além dos vários temas (que mudam tudo, dos sons de alerta aos ícones de aplicativos), os menus escondem uma série de opções. Quer colocar o nome da operadora na barra superior? Ok. Gosta de ver o uso da rede em tempo real? Só ativar. Acha desperdício o botão frontal “voltar” servir apenas para… voltar? Tudo bem: configure-o para abrir o Google Now ou fechar o aplicativo atual. Prefere as cores mais vibrantes das telas AMOLED? Aumente a saturação e seja feliz.


O sistema traz ainda funções como a gravação de chamadas, que pode ser ativada com um toque durante a ligação — você também pode entrar nas configurações e pedir para que o Redmi 2 grave tudo automaticamente. Outras modificações bacanas são o recurso Não Perturbe (que só chegou nativamente no Lollipop) e as notificações na tela de bloqueio (opa, mais uma semelhança!).
Dá até para escolher o que os botões do seu fone de ouvido fazem (controlar o volume ou mudar a faixa). Isso também significa que, independente do tipo de fone de ouvido que você possuir (podem até ser os EarPods), os botões funcionarão corretamente. Se não estiver com um fone de ouvido (e desde que você não esteja no ônibus ou metrô), o alto-falante dá conta do recado: embora não esteja localizado numa posição favorável, ele emite som bem alto, sem distorções e sem abafamento.

O que a Xiaomi oferece, portanto, é um sistema operacional bastante agradável de usar, mas que muito provavelmente afastará os que preferem Android puro. Embora o Android esteja rodando por baixo da MIUI, o Redmi 2 é um smartphone que exige uma certa curva de aprendizagem, porque praticamente tudo foi mudado de lugar. É como aprender a mexer em um sistema operacional novo.

No Brasil, a Xiaomi não deixou de lado o Google Play e o pacote de softwares do Google, como costuma fazer na China, onde a empresa tem uma loja de aplicativos própria, o Mi Market. Mesmo assim, a empresa integrou o Mi Cloud, serviço que guarda na nuvem seus arquivos e configurações, incluindo registros de chamadas, mensagens de texto e fotos. Só que a Xiaomi ainda parece não estar em casa: o espaço gratuito é de 5 GB, e para expandi-lo você precisa ter um cartão bancário da China. Alguém aí?

 Câmera

O aplicativo de câmera do Redmi 2 traz pequenos mimos. Quando a câmera frontal está ativada, o aparelho tenta adivinhar a idade em tempo real (como aquela página da Microsoft) e aplicar filtros de embelezamento de acordo com a faixa etária. No caso dos idosos, por exemplo, não é feita a remoção de rugas para não deixar a imagem muito artificial. Deslizando o dedo para baixo, é possível ter acesso a uma série de filtros ao maior estilo Instagram.
Mas o software poderia ser mais otimizado. Com o modo HDR ativado, cada foto precisa de dois ou três segundos para ser capturada, o que pode fazer você perder uma cena — não é possível tirar outra foto durante o processamento. O foco automático não é muito confiável, e você provavelmente irá preferir tocar manualmente no ponto desejado se quiser tirar uma foto nítida.







De qualquer forma, a qualidade das fotos surpreende por estar bem acima da média, quando consideramos concorrentes como Moto E e Galaxy Win 2. O sensor de 8 megapixels consegue captar bons detalhes para um smartphone de R$ 499 e as cores deverão agradar a maioria das pessoas. Durante a noite, as fotos perdem detalhes, mas não tanto como se esperaria num aparelho de entrada. Além disso, o HDR, embora seja lento, funciona bem em cenários mais desafiadores.

 Sem HDR


 Com HDR

 Dentro de sua categoria, o Redmi 2 se sai muito bem na câmera — até o momento, não conheço nenhum concorrente Android que capture fotos melhores na mesma faixa de preço que a Xiaomi está cobrando.

 Hardware e bateria

  Com processador Snapdragon 410 quad-core de 1,2 GHz e 1 GB de RAM, o Redmi 2 não é nenhum primor em desempenho, mas a velocidade agrada bastante. O hardware chama atenção por conseguir exibir as inúmeras animações da MIUI de maneira fluida, sem engasgar, e a Adreno 306 faz um bom trabalho ao lidar com jogos pesados, como Dead Trigger 2 (com os gráficos no baixo). O desempenho é muito superior ao que tive no Moto E de 2ª geração, que engasgava em momentos aleatórios. O fato do Redmi 2 ter como base o Android 4.4 KitKat deve colaborar bastante com o resultado.
Por causa da RAM limitada, às vezes é necessário um pouco de paciência ao alternar entre aplicativos, já que eles são descarregados da memória para dar espaço a outros, um conceito que expliquei neste artigo. O gerenciamento de RAM do Redmi 2 é eficiente, e foram raras as ocasiões em que vi o launcher reiniciando por falta de memória. Seria bom se a Xiaomi trouxesse a versão com 2 GB de RAM ao Brasil, o que eliminaria esse gargalo.
Aqui vale uma observação de bastidor: a primeira unidade do Redmi 2 que tive acesso, antes mesmo do início das vendas no Brasil, era absurdamente lenta e travava frequentemente ao fazer tarefas simples, como abrir o aplicativo de telefone. O problema estava no software, que era uma versão de demonstração e não foi otimizado para o hardware do aparelho. Ciente da falha, a Xiaomi trocou o firmware pela versão estável (6.5.5.0), o que eliminou todos os incômodos.

O Redmi 2 possui dois modos de energia: Equilibrado e Performance. Por padrão, o aparelho vem configurado na primeira opção, que economiza energia, mas teoricamente diminui o desempenho. Eu não tive problemas de performance ao usar o smartphone no modo Equilibrado, e os testes de bateria foram feitos com essa opção ativada.
No dia de teste, tirei o aparelho da tomada às 7h30. Durante o dia, ouvi 2h de músicas e podcasts por streaming no 4G, tirei cerca de 20 fotos de teste e naveguei na internet pelo 4G por aproximadamente 1h30min, entre emails, redes sociais e páginas da web. A tela ficou ligada por exatamente 1h58min, com brilho no automático. Às 19h, o nível de bateria chegou a 36%.
É uma bateria que não irá decepcionar o usuário médio. Os perfis de bateria, que podem desativar os recursos de conectividade do aparelho, diminuir o brilho da tela e reduzir o consumo do processador, podem ajudar a melhorar a autonomia. A Xiaomi inclui na caixa um carregador de tomada de 2 A, o que permite recarregar a bateria do Redmi 2 rapidamente.

 Notas relevantes

  • Para deficientes visuais. Ao entrar pela primeira vez no menu Acessibilidade, o Redmi 2 já sugere a instalação do TalkBack. No entanto, o sintetizador pré-instalado (PicoTTS) não suporta o português do Brasil. É necessário instalar manualmente o software de conversão de texto em voz do Google. Depois de configurar tudo, as telas da MIUI e os aplicativos bastante modificados da Xiaomi podem ser utilizados sem grandes dificuldades. As interfaces estão acessíveis, embora haja exceções, como o botão da câmera na tela de bloqueio (lido como “botão 60”) e o gravador de voz, com seus “botão 94”, “botão 72” e afins.
  • Diferentemente do que ocorre quando você instala a MIUI num aparelho de outra fabricante, o Redmi 2 não tem acesso root liberado por padrão. Isso também significa que você terá o mesmo trabalho que teria em outros aparelhos para usar certas funções, como mover determinados aplicativos para o cartão de memória, por exemplo.
  • Para cortar os custos, a Xiaomi eliminou o fone de ouvido da caixa do Redmi 2. Eu citaria isso como ponto negativo no review, mas outras fabricantes seguem a tendência há bastante tempo. A Microsoft não coloca o acessório nem sequer no topo de linha Lumia 930, e o mesmo ocorre nos Nexus.
  • Eu não me responsabilizo pela foto de abertura do review.

Conclusão

É sempre bom quando uma fabricante balança o mercado lançando um produto muito mais atraente que os concorrentes. Foi assim em 2013, com o primeiro Moto G, que mudou o nosso conceito de “smartphone intermediário”; antes, com pouco dinheiro, só tínhamos acesso a Androids insuportavelmente lentos, com baixa capacidade de armazenamento e telas ruins. Em 2014, a Asus enfiou o pé na porta ao trazer o Zenfone 5, que oferecia hardware potente a um preço ainda mais agressivo.

Em 2015, acredito que é a vez da Xiaomi. O Redmi 2 também muda o mercado brasileiro no segmento de entrada e força as concorrentes correrem atrás do prejuízo. Por R$ 499, a chinesa oferece câmera decente, suporte a dois chips com conexão 4G, boa duração de bateria e tela de alta definição. Esse conjunto de hardware, por esse valor, ainda não é oferecido por nenhuma outra empresa no Brasil.
Claro, o software pode afastar os interessados pelo Android puro, o desempenho não é perfeito, a câmera poderia ser mais rápida e o design é pouco inspirado, todo de plástico. No entanto, a Xiaomi conseguiu estrear muito bem no Brasil e oferece um pacote difícil de ser batido — especialmente no momento atual, com impostos e cotação do dólar mais elevados. Se alguém me perguntasse qual aparelho comprar com pouco dinheiro, minha recomendação, hoje, é o Redmi 2.

Especificações técnicas

  • Bateria: 2.200 mAh;
  • Câmera: 8 megapixels (traseira) e 2 megapixels (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11n, GPS, Bluetooth 4.0, USB 2.0;
  • Dimensões: 134 x 67,2 x 9,4 mm
  • GPU: Adreno 306;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 32 GB;
  • Memória interna: 8 GB (4,4 GB disponíveis para o usuário);
  • Memória RAM: 1 GB;
  • Peso: 133 gramas
  • Plataforma: Android 4.4.4 (KitKat);
  • Processador: quad-core Snapdragon 410 de 1,2 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, giroscópio, proximidade, bússola;
  • Tela: IPS LCD de 4,7 polegadas com resolução de 1280×720 pixels e proteção Dragontrail.

Notas Individuais

Design
 
8
 
Tela
 
10
 
Câmera
 
9
 
Desempenho
 
8
 
Software
 
9
 
Bateria
 
9
 
Conectividade
 
10



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